VIctor Cervi, o cronista de Santa Rosa de Viterbo.

*Conheci o Victor Cervi em 2002, numa ranchada em Santa Rosa de Viterbo. Empatia de chofre, instantânea. Eu cantava, ao violão, e ele choramingava palavras soltas mescladas no meio dos versos, ora em boca chiusa ou reforçando a última palavra como um orador oficial de púlpito caipira. Gargalhadas sem fim em aval à magistral interpretação daquele Pavaroti de empréstimo.
Adorava brincar e fugia de falar a sério sobre as coisas triviais.
Por muito nos encontramos, ora na minha casa ou na dele, cervejas, lembranças do grande memorialista e colecionador que era, objetos e móveis raros decorando a bela casa e uma cozinha espetacular ao fundo de um quintal que mais parecia um cenário de filme de Branca de Neve, cochinhos de alpiste e quirera de arroz para o SPA de passarinhos agradecidos.
Aos poucos, mostrou-me centenas de crônicas lavradas ao longo da sua vida de jornalista doméstico, profissão dos muitos colegas que ainda habitam esse teatro moldador de lisonjas.
Minha ideia foi colocá-las num blog com o pseudônimo de Juvenil de Souza, nome que ele adorava assinar, mas que fazia questão absoluta de manter em segredo que ele era o autor das delícias por ele narradas. Tinha um texto saboroso, bem verdade.

Nas cartas que me escrevia, formalidade de Brancaleone com bravatas de Dom Quixote, humor genuíno. Suas crônicas em livro se fez ainda em 2015, materializadas com o esforço de amigos anônimos em poucos exemplares, mas que chegaram ao destinatário, o próprio Victor Cervi, já no ocaso de setenta e três anos de vida, no poente dos sintomas de um câncer de fígado que cerrou seus olhos em 28 de Dezembro de 2015.
A ele, o respeito e a reverência natural de um admirador da sua franqueza, das emoções e sentimentos confidenciados em inúmeras cartas recheadas de humor e verdades, observações e segredos, trivialidades peculiares da espécie humana. Um brinde à vida, Victor Cervi, e que Deus o acolha na sua infinita bondade.
*José Marcio Castro Alves